quarta-feira, 8 de maio de 2013

Controle Motor

Controle Motor



O Controle do Movimento


Classificação do Movimento Humano

Para facilitar a compreensão deste tema, dividimos os movimentos em três classes distintas, a que correspondem mecanismos de controle específicos: Os movimentos reflexos, os movimentos voluntários e os movimentos balísticos. Os movimentos balísticos, apesar de se incluirem na classe dos movimentos voluntários, merecem um tratamento diferenciado, pelas suas características próprias, como vamos ver.

Controle dos movimentos reflexos

Designam-se movimentos reflexos aqueles que são desencadeados por uma ordem motora da medula, sem recorrer ao encéfalo. Apesar de a generalidade das pessoas desconhecer que a Medula tem esta capacidade, a verdade é que os reflexos são desencadeados sem haver nenhuma interferência do cérebro. O exemplo clássico deste tipo de movimentos é a reação à queimadura, em que retiramos de imediato o segmento afetado, sem que seja necessário “pensar no assunto”.
Tipos de reflexo:
Reflexo Miotático
- predomina nos músculos extensores, embora também exista nos músculos flexores (a excepção dos músculos abaixadores da mandíbulas). - regula essencialmente o comprimento do músculo, em função da tração a que é submetido, ou seja, é essencial na regulação da postura (aspecto tônico . - permite o ajustamento do corpo necessário à execução de movimentos voluntários (aspecto físico).
Princípio da inervação recíproca de Sherinton:
A contração de um músculo acompanha-se da facilitação dos seus agonistas e inibição dos seus antagonistas.
Reflexo miotático inverso
Corresponde a um período de tempo eletricamente silencioso de abolição do tônus e inibição da contração de um músculo após a sua estimulação. Origina-se nos receptores de Golgi e desencadeia-se por estiramento passivo intenso ou mais frequentemente nas condições fisiológicas por contração ligeira do músculo. É um reflexo bi-sináptico.
O reflexo miotático não age sempre no mesmo sentido, pode ser de flexão ou extensão; não tem grande nível de divergência e convergência.
Reflexos de flexão
- Age sempre no mesmo sentido, - Contrai os flexores e inibe os extensores;
- Caracteriza-se por grande nível de divergência e convergência: pode ser desencadeado por múltiplos receptores num vasto espaço corporal e a resposta inclui um grande nº de músculos; - Latência diminuída quando a intensidade do estímulo aumenta;
- As suas vias são polissinápticas;
- Aferências variáveis: fibras cutâneas ou mucosas, fibras de origem articular, fibras de origem muscular extrafusonal dos grupos I, II, e IV - Segundo a natureza dos receptores pode ser um reflexo nociceptivo ou não nociceptivo.

Controle dos movimentos voluntários

Os impulsos nervosos que provocam os movimentos voluntários têm origem no córtex cerebral (na zona conhecida por córtex motor) e são conduzidos para a medula. No entanto, antes de deixarem o encéfalo, ramos colaterais enviam uma cópia da ordem motora (cópia de eferência) aos núcleos da ponte e daí ao cerebelo, que compara essa informação com a informação proprioceptiva que recebe; isto é: informação relativa ao estado do aparelho locomotor, posição, pressão, dor, etc. Seguidamente (se necessário), origina um estímulo corretivo que atinge o córtex  alterando a ordem motora de acordo com as necessidades do aparelho locomotor. Para além deste controle, o córtex motor também pode introduzir correções, de acordo com outros estímulos, como o visual.
controle motor

Movimentos Balísticos

São os movimentos rápidos em que não há tempo para introduzir correções durante a execução. Estes movimento são pré-programados e a ordem motora é executada (independentemente das consequências…) até ao final do movimento. Tal como nos outros movimentos voluntários, a cópia de eferência (cópia da ordem motora, enviada ao cerebelo) também existe e todo o mecanismo descrito anteriormente se mantém; no entanto, não há; tempo para realizar nenhuma correção  Por vezes, apercebemo-nos desta realidade, quando executamos um movimento balístico (como atirar uma pedra!…) e sentimos, logo ao executar o movimento, que alguma coisa não correu bem… mas já é tarde para evitar que o vidro se parta!
Em casos mais sérios, podemos sentir uma dor sem sermos capazes de travar o movimento a tempo de evitar uma lesão grave. Por isso é que o treino com recurso a este tipo de movimentos é mais arriscado.

Engrama


Definição: Traço permanente deixado por um estímulo no tecido nervoso; circuito nervoso globalmente facilitado, resultante de aprendizado, experiência ou treinamento, no qual as sinapses interneurais se tornam mais amplas, mais secretantes de neurotransmissores e mais ricas em receptores pós-sinápticos e, portanto, capazes de transmitir mais rapidamente e intensamente seus potenciais de ação, tal como se admite que ocorra para o estabelecimento da memória consolidada.

Tem como sinônimo “traço de memória”.



Introdução: Para entendermos o engrama cerebral, é preciso identificar o que é memória. Se considerarmos memória como capacidade de reter, recuperar armazenar e evocar informações disponíveis (retenção de informações aprendidas), o engrama cerebral – ou traço de memória – seria o traço permanente deixado por um estímulo no protoplasma tecidual; a representação física ou a localização de uma memória.

Uma habilidade aprendida e executada várias vezes deixa uma marcação no córtex motor. Sua capacidade de “memorizar” seqüências de movimentos freqüentemente executadas é conhecida como engrama. Os engramas utilizados para movimentos extremamente rápidos são chamados de engramas motores. Quando temos uma situação parecida com a que está “memorizada” no cérebro, estes engramas lançam mão dos mecanismos de ajuste para adequar o movimento aprendido anteriormente ao movimento necessário no momento.







Anatomofisiologia da memória:



1°) aprendizagem: registro ou recepção; corresponde à análise da informação através de uma modalidade sensorial particular (visual, auditiva, somestésica, olfativa). Esta etapa depende da percepção e da atenção;



2°) memória imediata ou de curto prazo: em dois minutos a mensagem sensorial pode ser reproduzida. Não traduz realmente um fenômeno de memória, mas uma propriedade particular das áreas corticais especializadas que guardam transitoriamente o traço do evento sensorial recente;


3°) conservação: estocagem ou consolidação; consiste na conservação da informação de uma forma mais permanente, sendo responsável pela memória de médios e longos prazos. Esta fase é reforçada pela repetição ou pela associação com outros dados já estocados na memória. A informação é tratada e codificada, sendo consolidado o traço mnésico (engrama). A fragilidade das recordações recentes é sempre maior que a das recordações antigas, sugerindo uma localização diferente ou uma certa estratificação da estocagem em função do tempo. Parece haver uma certa independência entre a estocagem de curto e a de longo prazo.

4°) evocação ou recordação: consiste na recuperação da informação estocada.
Ainda não está esclarecido o mecanismo da memória, ou seja, a formação do engrama (representação física de uma memória). A aquisição mnésica em duas etapas sucessivas (registro e consolidação) sugere a existência de dois mecanismos fisiológicos. Investigações recentes sugerem que a fase de memorização (registro) depende de um processo de caráter eletrofisiológico, enquanto a fase de consolidação dependeria de um processo bioquímico. Na primeira fase da memória, o processo seria devido á atividade elétrica em circuitos reverberatórios, possibilitando uma persistência da atividade neuronal após a informação. Essa reverberação da excitação constitui-se num engrama dinâmico. Este engrama dinâmico não pode explicar a memória de longo prazo, pois esta persiste mesmo após a supressão transitória da atividade neuronal normal do cérebro, como ocorre no estado de coma e nas crises convulsivas. Neste caso, a codificação da memória dependeria de uma mudança estrutural do neurônio, constituindo-se num verdadeiro engrama. Parece que este engrama depende de alguma mudança funcional ou mesmo morfológica ao nível da sinapse. A ativação (exercício de aprendizagem) determinaria a formação de novas sinapses e a hipertrofia das já existentes.

Assim, o traço (engrama) que deixa as experiências sucessivas é inscrito na rede sináptica do córtex cerebral. As possibilidades de uma informação ser gravada estão ligadas à vivência afetivas associadas a esta informação. Desta forma explica-se o papel do circuito hipocampo - corpo mamilar – tálamo – giro do cíngulo (sistema límbico) no funcionamento da memória.

A memorização (formação de engramas) ocorreria principalmente no sistema hipocampo – corpo mamilar e posteriormente os engramas seriam transferidos para o neocórtex. 
Portanto, a memória não pode ser atribuída a uma região encefálica determinada, mas dependente de múltiplos circuitos neuronais inatos e adquiridos, localizados no circuito de Papez – verdadeiro sistema ativador da memória – e em outras estruturas corticais e subcorticais.



Localização da memória:



Um tema acerca do qual se sabe muito pouco é o da localização das memórias. São elas localizadas numa região específica ou distribuídas pelo encéfalo? O Psicólogo Donald Hebb propôs um armazenamento distribuído para a memória. Há evidências de que não exista uma região única para a memória e que muitas partes do encéfalo participem da representação de um único evento. Isto não significa que todas as regiões sejam igualmente envolvidas no armazenamento da informação: diferentes áreas armazenam diferentes aspectos das memórias. 

Estudos de lesões, em humanos e em animais de laboratório, bem como as novas técnicas de imageamento funcional têm estabelecido, por exemplo, que as regiões do córtex cerebral que estão envolvidas na percepção e no processamento da cor, da forma e do tamanho dos objetos estão próximas – se não forem idênticas – às regiões importantes para a memória de objetos. Acredita-se que o engrama de uma memória declarativa esteja distribuído entre diferentes regiões encefálicas e que estas regiões são aquelas especializadas para determinados tipos de percepção e processamento da informação. Essa distribuição das memórias em diferentes regiões encefálicas também depende do tipo de memória e do tempo decorrido após a aquisição da informação.



A maneira pela qual a memória é processa no cérebro demandou estudos como: (I) os estudos em cachorros de Ivan Pavlov, fisiologista russo cuja conclusão foi de que o aprendizado através de condicionamento clássico ocorre no córtex cerebral; (II) a pesquisa acerca do engrama, de Karl Lashley, cuja teoria destacou que os traços da memória se formam no cérebro quando o aprendizado acontece. Seus estudos trouxeram duas importantes teorias: a) os princípios de ação em massa, provando que a quantidade removida de córtex cerebral era importante para as habilidades de aprendizagem de ratos, e b) a equipotencialidade, provando que todas as áreas do córtex são igualmente importantes para o aprendizado, e que nenhuma área seria mais importante que outra. Lashley nunca foi capaz de provar a existência do engrama e concluiu que uma palavra final não era possível.

Pesquisas ainda procuram o engrama e dão substância à teoria de Lashley.
O estudo de Hebb, a teoria de comunidades celulares (cell assemblies), de 1949, apresenta a mais satisfatória visão teórica da natureza geral do engrama, sustentando a visão de que ocorrem mudanças, durante o desenvolvimento do aprendizado, entre interconexões neurais em amplas áreas do cérebro.

Os estudos de William James provam a existência de pelo menos dois tipos de memória: a memória primária ou, consciente, e a memória secundária ou memória permanente, inconsciente, mas que pode ser trazida à consciência se desejado. Não se sabe se estes dois aspectos diferentes processos ou o mesmo processo sobre diferentes aspectos de tempo.



Conseqüências de alguns danos nos engramas causados por lesões cerebrais



Lesão na área pré-frontal:

• Dificuldade de escolha de opções e estratégias comportamentais mais adequadas à situação física e social do indivíduo, assim como a capacidade de alterá-las quando tais situações se modificam;

• Dificuldade de manutenção da atenção. Lesões na área pré-frontal causam distração; ou seja, o indivíduo tem dificuldade de se concentrar e fixar voluntariamente a atenção, já que a capacidade de seguir seqüências ordenadas de pensamentos depende fundamentalmente da área pré-frontal;

• Dificuldade de controle do comportamento emocional.


Lesão na área têmporo-parietal:

• Dificuldade na percepção espacial, não permitindo ao indivíduo determinar as relações entre os objetos no espaço extra-pessoal. Também não permite que se tenha uma imagem das partes componentes do próprio corpo, razão pela qual já foi também denominada área do “esquema ou engrama corporal”;

• Desorientação espacial generalizada, que faz com que o indivíduo não mais consiga deslocar-se de casa para o trabalho e, nos casos mais graves, nem mesmo dirigir-se de uma cadeira para a cama.

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